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domingo, 16 de junho de 2013

Manifestações por catraca livre ou rebeldia sem causa?

Avenida Mutinga, São Paulo (SP).

Sou usuário do transporte público na cidade de São Paulo.

Não preciso de ônibus todos os dias e tenho a regalia de usá-lo em dias e horários que quiser, portanto, uso fora daqueles momentos do rush. E é nessa condição que escrevo. 

Ando por toda São Paulo. É possível sair da zona oeste e descer lá na Praça da Sé, em cerca de 45 minutos, gastando menos de dez reais. Com uma viagem de ônibus, uma de trem da CPTM e uma de metrô. E voltar sem pagar nada mais que isso se a volta acontecer dentro do período de três horas entre a passagem do cartão eletrônico no dispositivo da primeira e da última catraca utilizadas.

Costumo ver pelo lado de fora da condução os trabalhadores voltando para casa depois de seus expedientes: gente assentada nos bancos com a cabeça encostada no vidro da janela ou reclinada à parte de trás do banco, rostos cansados com olhos fitos ao longe ou dormindo. Também, passageiros espremidos uns nos outros em pé, com a mesma fisionomia de esgotamento físico. Não é vida fácil, agradeço a Deus por estar fora dessa rotina.

Críticas superficiais

Manifestantes estiveram na semana passada na Avenida Paulista  e mediações reivindicando melhorias e o uso de transporte público gratuitamente. A passagem de graça já ocorre parcialmente. O Passe Livre solicitado já é uma realidade na cidade de São Paulo para todos os usuários durante os dias de Virada Cultural. Os idosos têm direito de viajar de graça todos os dias, os estudantes pagam a metade do preço durante o meio da semana.

A capital paulista não tem o melhor transporte público do Brasil e nem do mundo. Mas minha impressão é que os críticos que participaram de protestos (e muita gente na política, críticos de plantão em redações de jornalismo) desconhecem aquilo que criticam. O sistema de transporte público paulistano ainda precisa melhorar bastante, mas não está tão ruim como dizem estar.

Na semana passada, o discurso desse pessoal foi confuso e sem foco definido. Parecia reivindicação sindicalista ao reclamar dos salários de motoristas e cobradores, politiqueiro ao lembrar a corrupção de governo em Brasília, e sem noção ao referir-se aos administradores do transporte público paulistano - como se o maior sistema da América Latina, composto por cerca de 15 mil veículos,  não fosse gerenciado por grupos empresarias privados e sim pela já inoperante CMTC.

Sobre assédio sexual contra mulheres e as questões de gestantes, idosos. 

Ontem, li uma pessoa fazendo a velha associação do ônibus com a lata de sardinha, ao comentar sobre a condição de usuários com idade avançada, passageiros deficientes, mulheres grávidas, mulheres vítimas de "mãos bobas".

Idosos e deficientes não pagam passagem e têm garantidos por lei vagas reservadas para viajarem sentados. Os velhinhos foram há muito tempo favorecidos na gestão de Jânio Quadros - o então prefeito baixou decreto e a Câmara Municipal aprovou o uso gratuito por eles.

O comportamento do assédio existe nas viagens. E é algo que tem a ver com a educação dos passageiros que usam o coletivo. É possível perceber a diferença comportamental de linha para linha. Ao casar, mudei de bairro e tive esse impacto da mudança de mentalidade dos passageiros. Usava carros em que o percurso recebia pessoas mais humildes e menos cordiais, depois entrei noutro em que as viagens sempre foram mais agradáveis. Antes, bancos rasgados e riscados, palavreado chulo em conversas e escritas por todo lado, depois a manutenção do equipamento e ambiente tranquilo.

Salários

O Blog Ponto de Ônibus, dedicado aos trabalhadores da área, afirma que em uma greve de 2011 os motoristas que trabalham no município paulistano chegaram ao salário de R$ 1.815,00 por mês e os cobradores a R$ 1.072, 00, com direito a vale-refeição de R$ 13,00. Hoje, esses valores devem ser um pouco maiores. Podemos dizer que esses profissionais têm salários bem próximo do que ganha a classe de professores municipais. Todos eles, professores e motoristas e cobradores, poderiam ter mais aumentos!

Qualidade do sistema de transporte paulistano

Pode parecer que eu defenda as gestões na prefeitura de São Paulo da Luíza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad ao falar das frotas de ônibus.  Não estou defendendo. A Erundina começou o processo de melhora dos carros, a Marta aperfeiçoou e o Haddad recebeu a situação como temos agora.

As melhorias mais significantes ocorridas no sistema de ônibus ocorreram em gestões de prefeitos do PT. Não sou petista, mas reconheço o que foi feito de positivo pelo partido no transporte público da capital paulista. Quais melhorias? 1. Portas mais largas para todos os passageiros, contendo degraus rebaixados e corrimão, favorecendo a subida de idosos; 2. Porta exclusiva com rampa elétrica e espaço específico para afixar cadeira de deficiente; 3. Até 10% de assentos reservados aos deficientes, idosos e mulheres grávidas.

É sabido que as melhorias já existentes não aconteceram por bondade dos governantes municipais, eles foram impulsionados por leis municipais, estaduais e da esfera federal, o crédito disso é de vereadores, deputados estaduais e federais.

É claro que, apesar das melhorias, o sistema de transporte de ônibus ainda possui pontos deficitários, como por exemplo a necessidade de diminuir o tempo entre os carros, fiscalizar a pontualidade e manter a frota que trafega nas regiões periféricas, onde estão a população mais pobre e sofrida, com a mesma qualidade e regularidade que os ônibus que circulam na Vila Madalena, região nobre da cidade.

Polícia Militar versus manifestantes

O protesto contra aumentos de tarifas de transporte é válido e louvável, assim como expressar repúdio contra a corrupção. Porém, a manifestação de cidadania deve ser realizada sem ferir leis e respeitando o direito do concidadão alheio ao evento.

É ilegal fechar vias públicas para protestar, ninguém pode impedir o trânsito dos cidadãos se antes não for solicitada para a prefeitura uma autorização, que reorganiza as rotas do tráfego se autorizar o manifesto.

A  polícia tem o dever de garantir o direito constitucional de todos. E faz valer o direito de ir e vir livremente. Para isso usou bombas de efeito moral contra pedestres manifestantes, que ilegitimamente pretendiam usar o asfalto de vias públicas impedindo veículos de circularem.

Policiais também erraram no exercício da função, excedendo a autoridade ao procurar fazer com que houvesse dispersão do povo. Eu publiquei um relato: aqui. Existe soldado da PM gravemente ferido e também morto em São Paulo, atacados por manifestantes.

A polícia tem o dever de proteger patrimônios públicos. Manifestantes protestaram quebrando vitrines de loja; destruindo lixeiras públicas, semáforos de trânsito, depredando as dependências do metrô... Analise comigo, isto não é manifesto cívico é baderna. Infelizmente não tenho outro termo, mesmo entendendo que no meio dos manifestantes poderia estar gente bem intencionada. A PM não poderia se omitir, cumpriu obrigação de impedir o vandalismo, lançou bombas de gás lacrimogênio e deteve alguns baderneiros.

Em situação de provável conflito, não é possível o pelotão de soldados se relacionar com a multidão, sem liderança presente (no vocabulário da PM esse tipo de aglomeração é uma turba), entregando flores. Os soldados não possuem informação  prévia sobre quem é quem, qual manifestante é amigável e qual carrega armas - alguns foram flagrados portando armas e presos.

Cuidado, não se deixe ser um simplório elemento de massa de manobra!

Alguém, criticando a truculência da PM disse para mim: "Eu estava lá e vi, você não estava, assistiu pelo televisor". Quem estava presente viu e ouviu apenas até onde olhos e ouvidos, humanamente, tiveram capacidade de alcançar. 350 metros de alcance? É preciso analisar as ideologias por trás dos acontecimentos.

O perigo de qualquer tipo de engajamento é se tornar elemento de massa de manobra de indivíduos interessados em extrair proveito da situação em benefício próprio. Parece ser o caso nestas recentes manifestações da Avenida Paulista e adjacências.

Por que a Governo Dilma dá dinheiro para a Alquimidia, a ONG que realiza essas manifestações? O colunista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, escreveu um artigo interessante apontando para quem é responsável pelas aglomerações de protestos e badernas no Rio de Janeiro e São Paulo. Leiam o artigo dele aqui. Existe lógica no conteúdo que ele escreveu, afirmando provável envolvimento, não declarado, do governo federal, pois libera verbas via Ministério da Cultura e da Petrobrás e de incentivo da Lei Rouanet. O objetivo do patrocínio seria conquistar nas próximas eleições os controles dos estados do Rio de Janeiro, que atualmente está em poder do PMDB, e de São Paulo, com o PSDB. Justamente nestes dois estados, importantíssimos, a bagunça foi mais generalizada.

A gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura de São Paulo não fica totalmente comprometida se manifestantes entram em choque com a PM, por este motivo ele lança combustível ao invés de tentar apagar o fogo. O prefeito, no auge dos nervos acirrados dos manifestantes, fez pronunciamento público afirmando que não abaixará a tarifa e criticou a atuação policial. Está claro que a motivação dessa situação de caos tem objetivo eleitoreiro, querem colocar os eleitores contra o mandatário-maior da Polícia Militar, uma instituição cuja autoridade maior é o governador. Neste caso, arranhar as imagens dos governadores Geraldo Alckmin em São Paulo e Sergio Cabral no Rio de Janeiro.

Imagens de agressões entre manifestantes e polícia paulista são materiais preciosos para servir como peças de propagandas petistas às candidaturas de Lula ou José Eduardo Cardozo, para governador do estado de São Paulo.

Espere para ver se haverá a mesma vontade de manifestar-se no dia seguinte às eleições de 2014. Eu acredito que isso jamais acontecerá.

E.A.G.

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Blog Ponto do Ónibus - http://blogpontodeonibus.wordpress.com/2011/05/18/sp-se-livra-de-greve-de-onibus-veja-quanto-vao-ganhar-motoristas-cobradores-e-funileiros/ 

Um comentário:

daladier.blogspot.com disse...

Excelente comentário. O Movimento Passe Livre quer gratuidade, mas o Estado tem que arcar com o custo, que sai do nosso bolso em impostos. E ainda tem pastores na web defendendo a "revolução de araque".
Abraços!