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quinta-feira, 20 de março de 2008

O bispo Edir Macedo e a exegese sobre Eclesiastes 6.3

Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda" - Salmo 139.16.

Uma reflexão bíblica imparcial sobre a morte e a vida.

São várias as vezes que por falta da sede de conhecimento das Escrituras Sagradas grandes absurdos são ditos e feitos. Por conta da falta de leitura bíblica devocional e analítica, surgem distorções interpretativas. Deturpações grosseiras.

A Bíblia é clara sobre a vida e a morte. Deus é pró-vida, Ele é o Criador dela. Sabemos que a vida começa antes da concepção, basta a gestante ir ao médico, com poucas semanas grávida, e poderá se deparar com a audição do pulsar de um pequenino coração indefeso. Um grande sinal aos agnósticos e ateus.

O Salmo 139 é muito claro, e existe inúmeras outras partes das Escrituras Sagradas que evidenciam a mesma posição favorável ao feto.

Exegese: a interpretação correta.

Recentemente no cenário brasileiro houve uma interpretação equivocada em favor do aborto. Foi usado o seguinte texto: “Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele” - Eclesiastes 6.3.

Usar este versículo para justificar posicionamento favorável ao ato do aborto é um erro grave, pois o tema central deste capítulo não é o aborto. O versículo 3 é apenas a metade de uma frase. A sequência, versículo 4, dá seguimento ao sentido maior: “... pois debalde vem o aborto e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome; não viu o sol, nada conhece...”.

O raciocínio que Salomão desenvolve em Eclesiastes 6 começa no versículo 1 e termina no 12, onde esclarece sobre a vaidade das riquezas, mostrando que o acúmulo de dinheiro não traz plena satisfação. Fala da capacidade e incapacidade que as pessoas têm de desfrutar das bênçãos que Deus dá, que são dádivas. Explica, também, que não faz sentido alguém ter cem filhos (ser visto como um bem-aventurado) e partir desta vida sem aproveitar as bonificações que o Senhor concede.

Sobre o número de filhos, no Antigo Israel estava embutido no senso coletivo da população que ter muitos filhos era uma das melhores bênçãos que se podia receber (Deuteronômio 28.11; Salmo 127.3-5; Provérbios 17.6). E, sobre a sepultura, para os israelitas não ser sepultado depois de morto era uma das desgraças mais horríveis que uma pessoa podia passar (Deuteronômio 28.26; 2º Reis 9.32-37; Jeremias 8.1-2; 34.20).

É preciso levar em consideração as figuras de linguagem

Qual o proveito que há em ter uma conta bancária bilionária e não possuir saúde suficiente para tomar um copo d'água, fisicamente, de forma independente e outros desfrutarem dos seus bens financeiros? Ou o que há de positivo em ter saúde e não possuir posses materiais suficientes para viver dignamente? Qual o bom propósito na existência de quem morre e não tem dinheiro para pagar o próprio sepultamento?

Em suma: Não é sábio viver a vida, sendo rico ou pobre, sem saber aproveitar as oportunidades que estão ao alcance das mãos, trocá-las por desejos ilusórios e inalcançáveis.

Neste capítulo, Salomão mostra que é preciso ter a atitude certa com relação a Deus e suas bênçãos. É um erro alimentar a esperança de que encontrará satisfação suficiente na recompensa material do trabalho. Tanto a riqueza pode não ser a porta de escape para todos os problemas quanto a pobreza e as adversidades podem não ser demasiadamente ruins como se pensa.

Sobre a polêmica do aborto, encontramos dentro desse texto apenas uma comparação para reforçar a mensagem que é lícito gozar os bens que Deus dá, porém, eles não satisfazem a alma.

O aborto está em paralelo com as trevas, ausências de luz.

O que diz Eclesiastes 6.3?

A ilustração comparativa é a seguinte: melhor é nascer morto, um aborto (repare: não há referência ao aborto provocado), do que viver a vida sem usufruir dos resultados do próprio trabalho. Quem vem ao mundo e não conhece a luz (o ser informe, feto) e quem vê a luz (o bebê que cresce, se torna adulto) e não adquire honra e não desfruta das bênçãos de Deus, os dois irão para o mesmo lugar (veja: Eclesiastes 2.15-16; 3.19-20; 9.5-6).

Assim sendo, a mensagem central de Eclesiastes 6 é que viver uma vida longa e separada das coisas boas que o Senhor planejou para nós é pior do que a existência breve de um feto que não teve sua oportunidade de se desenvolver entre nós. Não existe apologia ao aborto.

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